A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) vai transformar Belém no centro das discussões sobre o futuro do planeta.
O evento ocorre em novembro de 2025, mas as obras do legado que o encontro vai deixar para a capital do Pará já estão em andamento. Entre as principais novidades estão o Parque da Cidade e o Porto Futuro II, dois grandes espaços públicos voltados para lazer, qualidade de vida e produção criativa. Mas a cidade amazônica também vai receber melhorias em áreas como mobilidade e saneamento.
A COP deve reunir representantes de 198 territórios, entre eles chefes de Estado, líderes do setor privado, ativistas e jornalistas. Os debates girarão em torno de soluções e acordos para frear as alterações do clima que já castigam diversas partes do planeta, como a Floresta Amazônica que enfrenta, pelo segundo ano consecutivo, uma seca severa.
Ainda no passado, o governo do Pará anunciou, com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um pacote de R$ 3,2 bilhões para investimentos em 52 projetos.
Referência da cidade, o Mercado de São Brás, prédio neoclássico inaugurado em 1911, no auge do Ciclo da Borracha, será repaginado. Além de um mercado, o local vai ser transformado em um complexo com áreas para feiras, restaurantes e ambientes para negócios.
Um marco em Belém
Vale destacar a reforma do complexo Ver-O-Peso, maior feira a céu aberto da América Latina, com 400 anos de história, e a construção do Parque Urbano São Joaquim, com 5km de extensão, entre a Avenida Júlio César e a Baía do Guajará. A criação do parque, que atravessará quatro bairros, motivará obras de urbanização, esgoto, drenagem pluvial, abastecimento de água e mobilidade urbana.
Segundo a secretária de Cultura do Pará, Úrsula Vidal, a COP30 será um marco na História da cidade:
— O volume de investimentos em infraestrutura, os programas de formação profissional e o incremento da rede hoteleira reposicionarão Belém no cenário das transformações pelas quais precisamos passar para que o planeta não viva um colapso climático.
A capital paraense tem outros projetos em curso, desde a abertura de vias e dragagem de canais até novos padrões de coleta de resíduos. Algumas novidades, porém, geram polêmicas por se chocarem com a própria pauta da COP. Entre as controvérsias está a a construção da Avenida Liberdade (PA-020), via expressa de mais de 13 quilômetros, a um quilômetro da comunidade quilombola Abacatal, na Região Metropolitana de Belém.
Para a arquiteta Roberta Rodrigues, diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (FAU/UFPA), os ganhos com a chegada de um evento como a COP30 são evidentes, mas é preciso limites.
— A Avenida Liberdade corta uma área enorme de proteção ambiental. É bastante contraditório com todo o discurso da COP e não vai resolver a questão do trânsito na cidade.
Grande museu de saberes amazônicos
A Amazônia não é uma apenas, mas várias. O bioma que ocupa quase metade do território brasileiro se estende por outros oito países da América do Sul. Nesse universo, há um sem-número de culturas que se desenvolveram em comunhão com o ambiente. É em nome dessa riqueza que será criado o Museu das Amazônias, atração principal doPorto Futuro II, um dos grandes legados da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em Belém.
No último dia 11 de agosto, o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) anunciou, em coletiva de imprensa na sede do BNDES, a concessão de US$ 800 mil (aproximadamente R$ 4,2 milhões) para a criação do museu, que será implementado pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) — organização pernambucana sem fins lucrativos responsável pela gestão de centros culturais como o Museu do Amanhã, no Rio —, em parceria com o Museu Paraense Emilio Goeldi.
Com quatro eixos temáticos (Amazônia Milenar, Amazônia Secular, Amazônia Degradada e Amazônias Possíveis), a proposta é contemplar a perspectiva dos povos amazônicos em todos os países onde o bioma está presente. São eles: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
Os visitantes serão apresentados a saberes ancestrais de indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, seringueiros, pescadores e outros povos que ocupam a região.
De acordo com o diretor-geral do IDG, Ricardo Piquet, o objetivo é criar um espaço voltado para a população local e não apenas uma obra ligada à COP:
— O museu tem que ser adequado ao dia a dia da cidade. O fluxo de pessoas, a capacidade desse espaço, as preocupações que vão ser trazidas para os debates, em seminários e nas excursões temporárias, serão todas de interesse da região — afirma Piquet. — Podemos trazer muitas histórias para serem contadas e discutidas no ambiente do museu.
Tradição e inovação
Segundo Piquet, o acervo do museu poderá ser físico e digital. Mais relevante é o conceito sugerido, de um espaço altamente interativo para compartilhar com o público conhecimento científico, desenvolvimento tecnológico e saberes tradicionais da Amazônia, sempre defendendo o compromisso com sustentabilidade, biodiversidade e a pluralidade cultural.
O importante, frisa o diretor do IDG, é trazer referências do passado, debater o presente e, obrigatoriamente, por se basear na ciência, projetar futuros possíveis.
Diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, Nilson Gabas Júnior explica que caberá à instituição, primeiro parque zoobotânico do Brasil, em Belém, o papel fundamental de estabelecer parcerias com organizações dos outros países onde a Amazônia também está, promovendo intercâmbio.
— Já estamos identificando parceiros — garante ele.
Documentação
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