Acessibilidade é tema de atividades e debates no Museu do Amanhã e faz parte da política do IDG

“Incluir é pensar nas múltiplas existências e como melhorar nossas plataformas e programas”

 

Quando a pandemia do coronavírus obrigou as escolas a fecharem e, ao mesmo tempo, a criarem ferramentas para o ensino online, muitas crianças e adolescentes sem acesso a tecnologias e redes de internet ficaram sem estudar. Entre essas, um grupo foi ainda mais afetado, o dos estudantes com deficiência, já que a acessibilidade remota não fez parte das estratégias iniciais das redes de ensino, sejam privadas ou públicas. Seis meses e meio depois, num momento em que já se discutem as estratégias para a volta presencial às escolas, é esse mesmo grupo o mais prejudicado. 

 

“Precisamos de materiais e conteúdo acessíveis, professores preparados e plataformas de ensino que promovam também a inclusão de pessoas com deficiência. Nós somos as últimas pessoas em que pensam na hora de efetuarem as mudanças. Planejar a volta ao presencial inclui pensar que estamos no grupo de risco e seremos os últimos a serem contemplados”, diz Isadora Nascimento, graduada em Direito, criadora do perfil no instagram @olharcotidiano, em que compartilha dicas e vivências como mulher com deficiência visual. 

 

Isadora foi uma das convidadas, junto com Rafaela Vale, pedagoga, doula e apresentadora da TV Ines, da 20ª edição do Evidências das Culturas Negras, que teve como tema “Racismo, capacitismo e autocuidado”. As duas debateram sobre a importância da representatividade e a necessidade de que Lei Brasileira de Inclusão – LBI (Estatuto da Pessoa com Deficiência) precisa ser praticada e adotada como política pública. Na transmissão, realizada no youtube do Museu do Amanhã, a acessibilidade foi protagonista: além dos dois intérpretes de libras, que participam de todas as lives do equipamento, tivemos também a presença da intérprete, de forma voluntária, Juliete Viana, que fez a versão voz de Rafaela, que é surda. 

 

No mês em que celebramos  o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência (21 de setembro) e o Dia Nacional do Orgulho Surdo (26), o IDG, que faz a gestão do Museu do Amanhã, programou também a atividade “Vamos falar sobre isso”, que teve mediação do educador museal Bruno Baptista, que é surdo e integra o Programa de Educação do Museu do Amanhã e o GT de Acessibilidade do Instituto. O tema faz parte da política do Museu e atravessa todas as programações, sendo aprimorado a cada projeto. Durante a pandemia, por exemplo, os intérpretes de libras foram incorporados às transmissões ao vivo. 

 

Para Camila Oliveira, coordenadora de Educação do Museu e também integrante do GT de Acessibilidade do IDG, é importante ressaltar que ser acessível não passa somente pela arquitetura ou mobiliários dos espaços, mas também, e principalmente, no atendimento e na criação de uma política de acessibilidade e educação que geram atividades como as visitas mediadas com crianças e adolescentes com autismo. “Incluir é não só abrir as portas para receber o visitante com deficiência, mas considerar as múltiplas existências no desenvolvimento  das atividades e ações oferecidas, pensando em sua experiência nos espaços físicos e virtuais. É pensar constantemente como melhorar nossas plataformas e programas existentes, idealizar novos programas e ações desde o início com acessibilidade, e estar atentos às múltiplas necessidades, como  viabilizar uma transmissão ao vivo com uma pessoa com deficiência visual e uma pessoa surda e fazer com que quem está assistindo possa participar também”, afirma Camila. 

 

Nesse sentido, o Museu do Amanhã implementou também um canal do Telegram para que pessoas surdas possam enviar vídeos em libras com perguntas aos convidados das transmissões ao vivo. Para Bruno Baptista, é essencial que a pessoa surda possa ter “conforto linguístico” ao se comunicar, já que libras tem uma estrutura diferente do português. Sobre a acessibilidade na programação online, ele reforça que ela é importante não só para ele, como educador, estar atualizado, mas também para toda a comunidade. 
“Eu acompanho a programação do museu porque quero saber sobre o motivo das queimadas no Pantanal, por exemplo, e outros temas que o museu trabalha. Também é importante quando pessoas com deficiência são convidadas a falar, a contar suas experiências e desafios. O lugar de fala, nesse sentido, é essencial. Mas queremos debater sobre outros assuntos também”, ressalta.