articles Orgulho é cultura: memórias, lutas e futuros possíveis para a comunidade LGBTQIAP+

27/06/2025

Orgulho LGBTQIAP+: ancestralidade, memória e o papel da cultura na luta por direitos!

Sou lésbica, sou negra e faço parte da comunidade LGBTQIAP+. Escrevo esse texto a partir de uma vivência que não é única, mas que carrega camadas de ancestralidade, afeto, resistência e reinvenção. Escrevo como quem sabe que nossa existência é, por si só, uma forma de luta e também de criação. Porque estar viva, sendo quem se é, é um ato político. E é também profundamente cultural.

No dia 28 de junho celebramos o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+. A data tem origem na Revolta de Stonewall, em 1969, quando pessoas LGBTQIAP+ resistiram a mais uma violenta ação policial no bar Stonewall Inn, em Nova York. Aquela noite foi o estopim de um movimento por liberdade, dignidade e visibilidade, atravessando décadas, fronteiras e gerações.

Mas muito antes de Stonewall, nossos corpos e afetos já existiam. A nossa história não começa na dor. Ela também começa nos quilombos, nos terreiros, nas comunidades indígenas, nas festas, nas famílias dissidentes que escolhem se cuidar. A nossa ancestralidade LGBTQIAP+ está viva , mesmo que historicamente apagada e segue pulsando nas novas narrativas que estamos construindo. Porque a luta por direitos também é uma luta por memória.

Hoje, ainda enfrentamos desafios imensos. Só em 1990 a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde. E apenas em 2022 a transsexualidade foi oficialmente retirada da lista de transtornos. Enquanto isso, seguimos lutando por direitos básicos: o direito à vida, à segurança, ao afeto livre, a existir sem medo  e sem armários que nos aprisionam.

Mas também seguimos criando. E quando criamos, somos potência.

A cultura LGBTQIAP+ influencia a arte, a música, o teatro, o cinema, a literatura e os museus. Somos artistas, escritores, curadores, educadores, performers. Transformamos nossas vivências em expressão. A cultura é o lugar onde nossos corpos encontram abrigo e voz. Onde contestamos as normas e abrimos espaço para imaginar outros mundos possíveis.

Esse impacto é simbólico, político e também econômico. Em 2025, a Parada do Orgulho LGBTQIAP+ de São Paulo teve a expectativa de  movimentar R$ 548,5 milhões, segundo a Associação Comercial da cidade. A nossa presença movimenta setores, impulsiona a economia criativa, exige reconhecimento. Não somos nicho, somos parte essencial da sociedade e queremos que nossos desejos, direitos e necessidades sejam respeitados.

Aqui no Instituto de Desenvolvimento e Gestão (idg), onde atuo como Analista de Comunicação Institucional Pleno, mais de 20% das pessoas colaboradoras se identificam como LGBTQIAP+. E isso importa. Importa porque vivemos o valor de sermos Autenticamente Diversos , um compromisso com a escuta, a inclusão e a construção de ambientes onde todas as pessoas sejam reconhecidas, respeitadas e celebradas.

A cultura é, para mim e para tantas outras pessoas LGBTQIAP+, mais do que um campo de atuação: é um território de existência. É nela que elaboramos a dor, cultivamos a alegria e imaginamos os futuros que ainda vamos viver. Orgulho também é isso: reivindicar espaço, memória e possibilidade.

Hoje, no mês do orgulho e em todos os dias do ano, seguimos transformando o mundo com coragem e imaginação. Porque orgulho é resistência. Orgulho é cultura.